Era
uma vez uma gota. Mas não era uma gota qualquer; era linda, transparente e mais
pequena que todas as outras.
Vivia
no meio de uma grande nuvem, com milhares e milhares de outras gotas.
Por
ser tão pequena, chamavam-lhe Gota Gotinha e diziam que era invisível, quer
dizer, quase não se via.
Sempre
que a grande nuvem chocava com outras nuvens, as gotas que viviam nas pontas
caíam para a terra. Mas a Gota Gotinha lá continuava na sua nuvem.
Gota
Gotinha estava sempre a dizer como era divertido viver no céu.
-
A chuva é muito importante, Gota Gotinha. Se calhar não sabes o quanto é
importante a água na terra – disse-lhe a gorda gota cinzenta.
-
Ah! Tu pensas assim? É porque estás gorda e bem cinzenta – respondeu-lhe -.
Deves estar mesmo a ver que vais fazer parte da chuva. Olha, boa viagem! Eu vou
ficando por cá.
O
que esta gota não sabia é que havia uma chuva muito miudinha, que os homens
chamam “chuva-molha-tolos”, feita de muitas gotas transparentes como ela.
Certo
dia, a enorme nuvem foi empurrada pelo vento. A Gota Gotinha até gostou e
disse:
-
Vamos amigas, vamos mudar de lugar e ver outras vistas. Uau!
Mas,
de repente, a grande nuvem chocou e as suas pontas foram-se transformando em
chuva.
Enquanto
a nuvem ia ficando mais pequena, a Gota Gotinha despedia-se das amigas:
-
Adeus, até qualquer dia!
Estava
tão entretida que nem reparou que o vento parara. E, sem sequer olhar para
baixo para ver onde ia cair, sentiu-se a voar, a cair, devagar, devagarinho.
Enquanto
descia, pensava: “ E eu que achava que nunca iria fazer parte da chuva! Onde
será que vou cair?”.
Fechou
os olhos e deixou-se ir.
Quando
parou, ficou muito quietinha pois não sabia o que se iria passar. Era a
primeira vez que tal coisa lhe acontecia.
Lembrou-se
então das histórias que tinha ouvido sobre outras gotas que passavam a vida a
cair em forma de chuva, mas que depois ficavam tão levezinhas que subiam de
novo para o céu.
“Bom,
agora estou na terra. Vou abrir os olhos”, pensava ela, quando ouviu:
-
Ora viva! Como estás? Estava mesmo à tua espera! Sou uma alface e chamam-me
Cabeça de Alfinete. Queres saber porquê?
-
Claro que sim – respondeu a Gota Gotinha.
-
É que eu vivo na ponta do canteiro e é muito raro a água chegar cá. Por isso
sou pequena e dizem que mais pareço uma cabeça de alfinete.
-
Pois é, amiga. Mas acontece que eu também sou muito pequenina e não sei se te
consigo regar sozinha – respondeu a Gota Gotinha.
Resolveu
então chamar outras gotas pequenas e transparentes que tinham caído por ali ao
acaso. Depois, todas juntas, entraram na terra, para dar água à pobre Cabeça de
Alfinete.
Enquanto
pensava que finalmente entendia porque era tão importante a água na terra,
começou a escorregar, a entrar cada vez mais para dentro da terra e viu as
secas e tristes raízes da pequena alface.
Estava
escuro, húmido e frio e a gotinha pensava que nem tempo tinha tido para se
despedir da alface sua amiga. Sem reparar que uma parte da água que
transportava tinha ficado na raiz de Cabeça de Alfinete, Gota Gotinha deslizou
e deslizou até que voltou a ver o céu!
Estava
num riacho, ao pé de milhares e milhares de outras gotas de água. Percebeu
então que eram todas aquelas gotas juntinhas que formavam aquele pequeno rio.
Foi então que ouviu 3 gargalhadas!
Claro
está, amigos, que era eu, o Zacarias!
Foi
quando estava a encher um balde de água no riacho, para a ir dar de beber a
todos os meus animais, que conheci a Gota Gotinha.
A
gota viajou dentro do meu balde e conheceu novos amigos: uns faziam piu-piu,
outros cócórócó. Ao longe, ouviu-se méé-méé e mum-mum.
Estavam
felizes pois tinham sede e eu dava-lhes de beber. A gotinha adorou conhecê-los!
Disse-me
depois que tinha sido a viagem mais bonita que tinha feito e que o tempo tinha
passado depressa. Tão depressa que ela nem reparou que cada vez estava mais pequena.
E quando despejei o resto da água do balde no pequeno rio, a gotinha sentiu-se
a voar…
Voou,
voou cada vez mais alto e quase, quase ao pé do céu, despediu-se de mim, de
todos os animais da quinta e, claro, da Cabeça de Alfinete. Até um dia, Gota Gotinha!