A Gota Gotinha, de Zacarias


Certo dia conheci uma pequena amiguinha e com ela aprendi a importância de uma gotinha!
Era uma vez uma gota. Mas não era uma gota qualquer; era linda, transparente e mais pequena que todas as outras.
Vivia no meio de uma grande nuvem, com milhares e milhares de outras gotas.
Por ser tão pequena, chamavam-lhe Gota Gotinha e diziam que era invisível, quer dizer, quase não se via.
Sempre que a grande nuvem chocava com outras nuvens, as gotas que viviam nas pontas caíam para a terra. Mas a Gota Gotinha lá continuava na sua nuvem.
Gota Gotinha estava sempre a dizer como era divertido viver no céu.
- A chuva é muito importante, Gota Gotinha. Se calhar não sabes o quanto é importante a água na terra – disse-lhe a gorda gota cinzenta.
- Ah! Tu pensas assim? É porque estás gorda e bem cinzenta – respondeu-lhe -. Deves estar mesmo a ver que vais fazer parte da chuva. Olha, boa viagem! Eu vou ficando por cá.
O que esta gota não sabia é que havia uma chuva muito miudinha, que os homens chamam “chuva-molha-tolos”, feita de muitas gotas transparentes como ela.
Certo dia, a enorme nuvem foi empurrada pelo vento. A Gota Gotinha até gostou e disse:
- Vamos amigas, vamos mudar de lugar e ver outras vistas. Uau!
Mas, de repente, a grande nuvem chocou e as suas pontas foram-se transformando em chuva.
Enquanto a nuvem ia ficando mais pequena, a Gota Gotinha despedia-se das amigas:
- Adeus, até qualquer dia!
Estava tão entretida que nem reparou que o vento parara. E, sem sequer olhar para baixo para ver onde ia cair, sentiu-se a voar, a cair, devagar, devagarinho.
Enquanto descia, pensava: “ E eu que achava que nunca iria fazer parte da chuva! Onde será que vou cair?”.
Fechou os olhos e deixou-se ir.
Quando parou, ficou muito quietinha pois não sabia o que se iria passar. Era a primeira vez que tal coisa lhe acontecia.
Lembrou-se então das histórias que tinha ouvido sobre outras gotas que passavam a vida a cair em forma de chuva, mas que depois ficavam tão levezinhas que subiam de novo para o céu.
“Bom, agora estou na terra. Vou abrir os olhos”, pensava ela, quando ouviu:
- Ora viva! Como estás? Estava mesmo à tua espera! Sou uma alface e chamam-me Cabeça de Alfinete. Queres saber porquê?
- Claro que sim – respondeu a Gota Gotinha.
- É que eu vivo na ponta do canteiro e é muito raro a água chegar cá. Por isso sou pequena e dizem que mais pareço uma cabeça de alfinete.
- Pois é, amiga. Mas acontece que eu também sou muito pequenina e não sei se te consigo regar sozinha – respondeu a Gota Gotinha.
Resolveu então chamar outras gotas pequenas e transparentes que tinham caído por ali ao acaso. Depois, todas juntas, entraram na terra, para dar água à pobre Cabeça de Alfinete.
Enquanto pensava que finalmente entendia porque era tão importante a água na terra, começou a escorregar, a entrar cada vez mais para dentro da terra e viu as secas e tristes raízes da pequena alface.
Estava escuro, húmido e frio e a gotinha pensava que nem tempo tinha tido para se despedir da alface sua amiga. Sem reparar que uma parte da água que transportava tinha ficado na raiz de Cabeça de Alfinete, Gota Gotinha deslizou e deslizou até que voltou a ver o céu!
Estava num riacho, ao pé de milhares e milhares de outras gotas de água. Percebeu então que eram todas aquelas gotas juntinhas que formavam aquele pequeno rio. Foi então que ouviu 3 gargalhadas!
Claro está, amigos, que era eu, o Zacarias!
Foi quando estava a encher um balde de água no riacho, para a ir dar de beber a todos os meus animais, que conheci a Gota Gotinha.
A gota viajou dentro do meu balde e conheceu novos amigos: uns faziam piu-piu, outros cócórócó. Ao longe, ouviu-se méé-méé e mum-mum.
Estavam felizes pois tinham sede e eu dava-lhes de beber. A gotinha adorou conhecê-los!
Disse-me depois que tinha sido a viagem mais bonita que tinha feito e que o tempo tinha passado depressa. Tão depressa que ela nem reparou que cada vez estava mais pequena. E quando despejei o resto da água do balde no pequeno rio, a gotinha sentiu-se a voar…

Voou, voou cada vez mais alto e quase, quase ao pé do céu, despediu-se de mim, de todos os animais da quinta e, claro, da Cabeça de Alfinete. Até um dia, Gota Gotinha!