Então,
a menina
Gotinha de Água,
vestida de esmeralda
e luar,
desceu
aos caminhos
escondidos
da terra,
passou
entre as raízes
das plantas,
desceu
desceu
desceu sempre
até que chegou
a um palácio
maravilhoso
de cristal
e platina
que havia
no seio
da terra.
Quando acordou,
que saudades
sentiu
do Mar!
E disse:
- São horas, irmãzinhas.
E puseram-se
a caminhar
Iá nos caminhos
do fundo
da Terra.
Caminharam.
Caminharam.
Até que um dia,
um pastorinho
que levava
as ovelhas
para o monte,
- quem no diria?- viu que
duma fraga brotava uma fonte.
- Que Iindo! - disse o
pastorinho,
e com uma folha
de castanheiro
fez uma bica
por onde
a menina
Gotinha de Água
e suas irmãzinhas,
todas vestidas
de esmeralda
e luar,
saltaram
alegres
a cantar.
Era
um dia de sol
na Primavera,
trinavam
os passarinhos
nos seus violinos,
tocavam os grilos
e os grilões
nos seus rabecões,
assobiavam os melros
nos seus flautins
e os sapos,
os sapinhos
e os sapões,
à porta
das suas casotas,
estavam a ouvir
contada
pelo sapo Ze Manel
a história
dum menino
que foi poeta e pastor
da Primavera
e que era muito amigo
dos sapos
e sapinhos
e sapões
e de todos
os que são
(como os sapos)
humildes mas têm
bom coração.
Duas rolas cantavam
ao desafio
trru-trruu
trru-trruu
no alto dum pinheiro,
e um pica-pau,
tau-tau
tau-tau-tau
brincava
de carpinteiro.
Satisfeitas
e felizes,
as cigarras
faziam versos
ao sol
e à alegria
de viver:
como é bom amar
olaré, olaré,
o que o Sol aquece
e sonhar, cantar
olaré, olaré,
o que nos apetece.
E até
a senhora
Dona Formiga
sempre atarefada
e consumida
com a sua vida,
pousou o fardo
tão pesado
que levava
e estava
feliz, esquecida
ao sol da manhã ...
ao sol da manhã ...